Será que o problema é a rede social?

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Faz a conta aí de quantos textos e títulos que nem esses abaixo você viu nos últimos tempos. Perdi a conta de quantos textos e estudos li nos últimos meses apontando as redes sociais, (foco em Facebook, Instagram e Whatsapp) como vilões do bem-estar da geral. As ferramentas, praticamente, já estão à beira da fogueira, esperando o impiedoso que chegará com a tocha para incendiar tudo e acabar com a maldade. Desde 2011, assisto a Seminários e Congressos com a sentença de morte decretada. Não sei se a culpa foi das galáxias mas, até o momento, todos os Cavaleiros Apocaliptícos erraram as apostas.

 

Fins justificam os meios? 

Redes sociais como Facebook, Instagram e tudo mais com apelo social é só isso: linhas de códigos e algoritmos que ficam à disposição para serem alimentados. É por esta razão que usamos os termos seeding e feeding. Por essa razão, acho um tremendo desserviço títulos como estes aí de cima que induzem a gente a se colocar no papel de vítima, projetando nas ferramentas um problema que é do indivíduo, do usuário.

Não são as redes que fazem mal.

São as pessoas que as usam que fazem mal a elas mesmas no mal uso destas ferramentas, e, arrisco dizer: em quase todos os casos, essas pessoas também se fazem mal no tal do mundo offline, longe dessas redes.

A diferença (meu ponto de vista para você avaliar aí e juntar com o seu) é que ali, logada, a pessoa tem a LIBERDADE até de criar uma persona, ela tem liberdade de fazer textão politica e socialmente correto, ela tem liberdade de postar o que quiser, seja legítimo ou não.

Pessoas mentirosas são mentirosas, e ponto. São mentirosas no emprego, no bar, no final de semana, no almoço de domingo, no Instagram. Pessoas tem problema de autoestima, complexos ou traumas na vida off-line (doméstica, no ônibus, no metrô, no ar condicionado do carro) e no Facebook. Pessoas tem tendência à depressão, em qualquer situação da vida off-line, também nas redes sociais. Pessoas compulsivas são compulsivas no Face, no Insta, na loja, no mercado, em casa.

No fundo, acho que as redes sociais prestam um brilhante serviço a todos nós, usuários: por elas e nelas, temos a capacidade de nos vermos e vermos uns aos outros diante de um espelho, ação que, na vida do dia a dia e sem as redes, muitos de nós pulam. Fingimos que não entendemos nossos vazios, nosso trauma ou nosso complexo, e passamos batido. Pensa com verdade aí…

Livre-arbítrio, é você?

Tem gente que mente descaradamente nas redes sociais? Claro, tem. E, olha, esse povo deve dar o mesmo caô na vida offline de outro jeitinho, mas repare bem nos seus contatos e reflita!

Temos o amigo que já matou a avó 3 vezes para garantir a prova de segunda chamada porque foi à final do campeonato de futebol.

Temos o amigo da ressaca da balada de quinta à noite que, sexta-feira, falta ao trabalho porque tem ‘consulta marcada há 4 meses’.

Se eu escolho seguir uma pessoa que tem a pachorra de assumir o uso de aplicativo para afinar nariz, fazer cintura que na foto real não existe e, ainda assim, vendo as fotos retocadas deixo comentário de gata, diva, musa o problema não é dela que está ali, no perfil dela, colocando o que ela quer. É meu, que finjo demência e continuo incentivando essa mentira para mim.

Presta atenção na quantidade de vídeos no Youtube que ensinam os truques para as fotos! Não são didática para filtro de luz (que deixam a foto bem mais agradável, inclusive), fotos com melhor qualidade de foco ou posicionamento de câmera. São filtros para transformar pessoas em mentiras. Já vi maquiador e fotógrafo que trabalha em parceria com maquiador dizer que defende photoshop sim, e que acha super certo perde 3h arrumando uma foto de uma modelo (!) porque não é justo a marca de catapora dela estragar a maquiagem toda. Eu vivi pra ouvir essa bosta. Aí, os alunos, os profissionais do setor seguem perfis assim e ficam profundamente frustrados por não alcançarem em seus trabalhos ‘tanta perfeição’. Só que isso é mentira. Essa perfeição não existe. E enquanto essa chuva de aplausos para este tipo de gente existir, vai ter vampiro AND pescoço de sobra por aí…

Cadê minha Riviera Francesa, Instagram?

Vamos aprofundar nossa análise com um pouco mais de álcool: se eu sigo alguém com um life style muito diferente do meu e me pego triste ao ver essa pessoa com a taça de prosseco em um iate que nem sei o nome e o tamanho, em um mar que tem a água mais limpa do que a que eu bebo aqui em casa, sorrindo com aquele piano na boca porque fez permuta das jaquetas com o dentista milionário, o buraco (ou problema) não é dela. Feliz ou deprimida, na real ou na montagem do Photoshop, ela postou no perfil dela o que ela quis.

O problema é meu. Senti meu vazio em perder mais tempo acompanhando e vivendo a vida dela do que a minha. Senti meu vazio ao olhar e, consciente ou inconscientemente, me olhar, comparar, invejar, despeitar. Não tem nada a ver com ela.

E, de verdade; se a gente vitimizasse menos, ia agradecer encarar tantos pontos a serem tratados, numa tacada só. Mas é mais fácil, de novo, projetar a culpa no outro, não? Fazemos isso a vida toda…

Assumir que precisamos de terapia? Isso é pros fortes que sabem que, uma vez reconhecida a necessidade, a ação torna-se necessária…

“Nunca o índice de depressão e suicídio foi tão alto como agora…” Repito: as pessoas estão diante de espelhos no choque e isso está distorcendo as coisas.

As redes sociais existem. Ponto. Você escolhe em quais delas estar, ponto. qualquer coisa a partir dai é arbítrio seu:

Estou pq meus amigos estão = você escolheu.

Estou porque trabalho com isso e não dá pra ficar de fora = você escolheu.

Estou porque preciso entender as tendências = você escolheu.

Não rola identificação? Para de seguir

Existe um verbo em inglês para isso: to unfollow. Dei unfollow em várias pessoas depois de pensar bastante. Algumas realmente não tinham nada a ver comigo. Outras, se tornaram chatas com o passar do tempo, mudaram a essência, deslumbraram com a grana e o suposto sucesso e, outras, não batem mais com o que penso hoje. Escolhi seguir quem me interessa e apenas isso.

As redes sociais isolam pessoas?

Não acho, você acha? Tenho parentes e amigos que moram em vários lugares fora do Brasil e, com as redes, me sinto mais participativa da vida deles do que antes. Falamos mais, usamos os recursos de voz e vídeo que as redes oferecem e temos muito mais contato. Quem está isolado, desculpa aí, é porque tem tendência a isolamento e provavelmente, sem as redes, não tinha outro jeito. Agora tem. Deixa o amiguinho.

Instagram mostra vida perfeita

Também não acho. Pensa comigo e responde aí: você já fez festa com fotógrafo? Niver, casamento, eventinho de trabalho? Beleza. Aí, na hora de escolher as fotos para montar seu álbum e ter um registro físico da coisa toda, você escolhe as fotos em que seu olho sai meio aberto, meio fechado e metade da galera tá virando fazendo aquele vulto e tremendo a foto toda ou você escolhe as fotos legais, felizes, para eternizar no álbum?

Acho que já temos nossa resposta, não?

Portanto, vamos fazer menos mimimi de reclamar que instagram não é vida real, nem vida perfeita e encarar os fatos: pra registrar ali, a gente coloca os melhores momentos, ou momentos reais como a gente SEMPRE fez na vida analógica, com os álbuns de fotografias. Qual é a diferença?

Nosso complexo pode até ser despertado inconscientemente por uma ação do outro, como a psicologia explica, mas a responsabilidade por ele é minha, de mais ninguém. Não dá pra projetar a culpa no perfil de A, B ou C e menos ainda dizer que é a rede social a vilã da história. Não entendo isso…

Somos imaturos para usar a internet?

Você saberia dizer há quantos anos temos a internet massificada?

A internet só ultrapassou os limites restritos ao meio acadêmico em 1994, quando a Embratel começou a oferecer internet, em caráter experimental. Só a partir de dezembro de 1996 é que a internet começou a se proliferar no país. Você espera maturidade máxima (máxima mesmo) de um jovem de 22 anos?

Educação digital

Pode parecer nerd demais, mas a gente pode aprender a usar tecnologia, pode aprender a etiqueta tecnológica e, se você ainda não tiver concordado comigo, mesmo depois do exemplo acima. Dá para piorar um pouco mais isso: para usar uma rede social, você só precisa de acesso à internet, saber ler e escrever.

Etiqueta de TI? Entender que a tecla CAPS ativada em uma conversa – em linguagem tecnológica –  significa que você está gritando? Para quê?

Este é o raciocínio de muita gente… Provavelmente, as mesmas pessoas que dispensam entender a sistemática de uso das redes são as que, em outubro, ainda compartilham post de N. Sra de Fátima com a legenda “esta semana é a semana de N Sra de Fátima” quando a data da tal semana é 13 de maio. Sim, tem muita gente que faz. Você também ja deve ter visto ou recebido aqueles posts de fake news, já desmascarados mas que seu contato ainda compartilha.

Isso é o efeito dominó dos usuários que não sabem usar ou usam pouco as tecnologias. E eles não são poucos. Eles abrem emails com links de vírus, eles ficam chateados se mandam post de bom dia e você não responde. Lembrou de quantos aí? São usuários novos de tecnologia, não de idade, obrigatoriamente.

A internet usa muitos termos em inglês (o próprio nome internet é inglês e não é traduzido aqui inter = entre | net = rede) e muitos brasileiros não falam inglês, não entendem os termos, não procuram saber os significados deles para usar as tecnologias.

Quantas pessoas você conhece que abreviam o uso do WhatsApp para “Zap”? Não tem absolutamente nada a ver uma coisa com outra, mas estes usuários não sabem disso, eles ouviram ou leram de alguém ou algum lugar que tem um aplicativo para conversar de graça, usando a internet do celular e só precisavam baixar.

Vocês entendem que o buraco é muito mais embaixo do que só culpar o bendito do algoritmo ou o código?

Conhecer os mecanismos de tecnologia, a forma com que a linguagem tecnológica circula melhor, entender para que serve e como usar uma hashtag (#), quais são as abreviaturas usuais, as simbologias, entre outras questões, é necessário… Além de necessário, é proteção para quem usa a internet, a gente navegará melhor, muito melhor.

Repito: não tem a ver com idade. Tem a ver com perfil de usuário.

Tenho amigos que trabalham com Tecnologia e possuem perfil no Twitter, mas abominam o Facebook e o Instagram. Eles conhecem as ferramentas mas, acima de tudo, conhecem seus perfis de usuários e deduziram que, para eles, o Twitter é mais interessante.

Tenho amigos que, na época em que o Facebook iniciou a varredura por perfis que ‘gritavam’ na rede, me mandavam inbox perguntando se eu sabia porque o perfil deles estava bloqueado. Uma destas pessoas, inclusive, semanas antes da varredura publicou um post dizendo “EU ESCREVO APENAS EM MAIÚSCULO. QUEM NÃO QUISER ME SEGUIR NÃO PRECISA”. A ignorância (no sentido exato do termo: ausência de saber) fez este meu amigo errar feio e, claro, ter a conta bloqueada…

Enquanto essa salada toda se ajeita com tempero e acompanhamentos, a gente aguarda os próximos capítulos da saga assunto do momento – a possível exclusão dos likes nos posts do Instagram para “diminuir a depressão”. O tema está neste post aqui e também no canal (aqui).

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