Ontem, estava acompanhando uma conversa em um dos grupos fechados dos quais participo, no whatsapp. A conversa era um pedido de indicação de um determinado serviço e a pessoa dava preferência por ser uma indicação gratuita.
Aquilo ali me soou feito trombeta na orelha. Ela não percebeu o que fez, mas você aí, do outro lado da tela, acompanhe a Migles aqui: todo mundo que trabalha com comércio de alguma coisa (seja produto, seja serviço), quer o quê? Vender. Vender a ideia, vender o serviço, vender o produto. Até aqui, tudo bem?
Beleza.
Já escrevi sobre isso aqui no blog, no ano passado, no post Quanto custa seu valor? Acontece que, a maioria dessas pessoas busca soluções alternativas e GRATUITAS para GANHAR dinheiro. Esquecem-se APENAS de que estas soluções gratuitas também foram criadas por ALGUÉM que, certamente, não vive de luz e não paga boletos com uma piscadinha de olho.
Entendem meu ponto?
Estamos viciados no ‘jeitinho’: tudo mundo quer ganhar mas não quer pagar (o que outra pessoa está oferecendo) para ter o produto/serviço que precisa para…. VENDER MELHOR.
A conta não fecha.
Porque um lado tem que levar vantagem e o outro não?
É lógico que nem sempre fazemos isso na consciência de ferrar outras partes. Aliás, a maioria das pessoas que começam negócios reclama da falta de budget para áreas como uma das que atuo, por exemplo: criar e mentorar estratégia de comunicação.
Comunicação envolve escrever, atividade que aprende-se na infância a desenvolver. Logo, é de se pensar que dar uma ‘ajuda’ não me custa nada, certo? Errado.
Imagina a minha luta para ter respeito por todos os pedidos de “me dá uma dica?”, “deixa eu te perguntar só uma coisinha?”, “dá para criar SÓ uma arte para eu mandar pros meus clientes?”.
TUDO ISSO É MEU TRABALHO, é o que dá vontade de gritar.
Se já gritei? Nunca. É bizarro.
Ensino pessoas a escaparem dessa falta de respeito com os prospects e clientes delas, mas acho muito difícil dizer NÃO a meus conhecidos. Veja só…
Claro, há exceções. Temos amigos do peito que nos prestam favores e isso é sim uma via de mão dupla, faço com todo amor. Temos familiares nesta mesma linha de condução. Temos parceiros incríveis que topam e oferecem permutar produtos/serviços pelos nossos. Mas existe RESPEITO. Não existe VANTAGEM unilateral.
Estou falando aqui da turma que só enxerga o próprio umbigo, num egoísmo supremo.
Uma das minhas metas deste ano é reconhecer a folga antes de me estrepar quando o abuso acontece. Sim, meu trabalho está naquela linha tênue entre o conteúdo doado e o cobrado. Mas, 20 anos trabalhando com a mesma coisa já me mostraram com clareza quando estou sendo perguntada ou quando a intenção é explorar na cara dura, tipo Telma e Louise anunciando um assalto no filme mas sem perder a classe “Me passa a carteira, por favor”.
Agorinha, lia o perfil da Ana Soares no IG, o @modapenochao e encontrei um post brilhante que fecha lindamente este meu, olhe só:
“Eu escrevo isso do alto dos meus erros. Já fui humildona demais, confesso, o que não é nenhum demérito, mas não dá pra achar que podemos aceitar qualquer coisa que oferecem em troca do nosso esforço, tempo dedicado, neurônios e estudos. A expectativa pelo retorno é alta e, já adianto, nem sempre é satisfatória.
Lembro que, durante uma aula minha de formação em consultoria de estilo, uma aluna perguntou sobre base de valores para quem estava começando na área. “Depende, mas se você chegar num cálculo cujo valor seja maior que o meu, acho maravilhoso”. Ela e a turma ficaram chocados, porque como assim uma iniciante (aspas, muitas, aqui) poderia cobrar mais do que quem já estava na estrada?
Eu quero mais que os meus alunos brilhem, de coração. Dependendo do público que querem trabalhar, das suas necessidades, contas e investimentos, podem cobrar o que consideram o ideal pra eles, sim. Não é abuso, nem é sonhar alto. É acreditar na sua demanda, é compreender um nicho que se quer explorar, é arriscar suas ideias – e, de verdade, tem quem curta muito meu discurso, mas prefere contratar o trabalho de alguém com um estilo de vida próximo ao seu – e tá tudo certo, porque o contrário também rola!
Como blogueira, já vendi meu conteúdo em troca de status, de ter meu nome atrelado a uma marca, e eu só me estressei. Fui explorada, destratada e não rolaram os outros trabalhos prometidos. ? .
Nem sempre tenho como pagar por todos os serviços que gostaria, mas tento ao máximo ser justa com todos que estão comigo, remunerar e indicar. O mercado precisa, sim, pagar seus profissionais, e por mais que seja encantador trabalhar com quem se admira, é importante ter uma troca justa. Se possível, sempre, aliás, em dinheiro, porque os boletos eu não to pagando com sorriso, infelizmente. ?
Não tenham medo de cobrar pelo trabalho de vocês, nem de precificar, nem de retrucar propostas abusadas. Posicionamento é algo que o mercado precisa, que se respeitem os profissionais e, de uma vez por toda, compreendamos que se colocar e defender seu conteúdo é legítimo e digno de reconhecimento e respeito. Vai por mim, todo mundo só tem a ganhar (literalmente). ✨” Ana Soares, Moda Pé no Chão
Enfim, minha Gente… Vamos pegar esse impulso de começo de ano e rever nossa postura? Porque de nada adianta a gente se sentir vítima do planeta que não reconhece nosso trabalho quando a gente mesmo não olha pra ele com o profissionalismo que ele merece (profissionalismo no sentido de AMAR, ACEITAR E SE FAZER RESPEITAR pelo próprio trabalho). Bora?