A turma fashionista tem falado demais em Christopher Bailey – Burberry – devido às mudanças que vem implementando na marca (a Burberry anunciou que a coleção desfilada esta temporada já estaria disponível ao varejo no dia seguinte ao desfile, por exemplo) mas, o que nem todo mundo sabe é que a maior mudança na estrutura do segmento fashion está sob responsabilidade de outros 2 mocinhos: Guram Gvasalia, atual CEO do coletivo Vetements, e de seu irmão Demna Gvasalia (apontado recentemente como novo estilista da Balenciaga e que também responde como diretor-criativo do coletivo).
Demna Gvasalia
Post da Mira Duma, com Guram
A dupla chacoalhou geral o setor quando anunciou as mudanças pretendidas para o próximo ano.
Guram tem 30 anos e é visionário com profundidade de causa. Decidiu, de forma unilateral, misturar os desfiles feminino e masculino em Paris 2 meses antes das rodadas tradicionais em NY, Londres, Milão e a própria capital francesa. Foi dele também a decisão de abolir as tais ‘pré-temporadas’ (os desfiles que eu chamo de entre-safra) que exaurem as equipes criativas e já não surtem tanto efeito em termos de consumo. Guram reduziu tudo a apenas 2 temporadas anuais. E ponto, that´s all Folks.
“Everything has its time, and sometimes in life, someone needs to take the first step. We’re ready for the consequences coming at us,” says Guram. “Russian people say: ‘Who doesn’t risk, doesn’t drink champagne'”
“Tudo tem o seu tempo, e às vezes na vida, alguém precisa dar o primeiro passo . Estamos prontos para as consequências chegam até nós ” , diz Guram . “Os russos dizem ” Quem não arrisca, não bebe champagne”, disse recentemente, em entrevista.
A visão do cara é fresh, destemida, genial e embasada. Com passagens por grifes de presença global, ele comanda o coletivo Vetements ao lado do irmão Demna.
Os Gvasalia nasceram em uma pequena cidade na ex-URSS (Estado da Geórgia), fugiram de sua terra natal com sua família durante uma guerra civil nos anos 90 e estabeleceram-se em Düsseldorf , na Alemanha.
Demna, o criativo da Vetements, tornou-se designer. Estudou na Academia Real de Belas Artes de Antuérpia e trabalhou na Maison Martin Margiela e na Louis Vuitton. Guram, 4 anos mais jovem, tinha um cérebro de matemática. Formou-se em Negócios Internacionais e em Gestão Europeia e Direito nas universidades alemãs.
Trago para vocês trechos de uma entrevista genial, estilo super-sincera, que ele concedeu no começo de fevereiro à Sarah Mower, para a Vogue americana. Me digam se esse não é O cara:
V: Por que você acha necessário levar de volta os desfiles da Vetements para janeiro em vez de apresentá-los em março, com o restante dos desfiles femininos?
Guram: Hoje, 70 a 80% do orçamento do varejo fica em pré-coleções. Então, as coleções principais acabam ficando menos relevantes. Coleções apresentadas em marco só podem ser entregues (à venda) em julho, ou talvez setembro ou outubro. O varejo americano entra em promoção depois do dia de ação de graças (o chamado Thanksgiving).
Portanto, as principais coleções ficam no chão para serem vendidas pelo preço integral apenas durante oito semanas, em média. Trazendo de volta as principais coleções de março para janeiro, estende-se a vida útil das roupas por mais quatro meses.
V: Você disse que a Vetements nunca fará pré-coleções, apenas 2 temporadas por ano. Por quê?
Guram: Pré- coleções foram criadas para garantir que as lojas obtenham entregas antecipadas e tenham mercadoria suficiente o tempo todo para apoiar o consumo conspícuo . As cabeças do negócio pensaram que quanto mais eles produzissem, mais venderiam.
O principal equívoco desse modelo é que, quando se corta uma torta em oito ou 16 fatias , o tamanho do bolo permanece o mesmo. Há apenas um certo número de pessoas dispostas a adquirir um determinado número de produtos.
Uma vez que a demanda esteja satisfeita, vejo oferta adicional como desperdício. Se as mercadorias são deixadas à venda, isso significa que foram produzidas em excesso. Luxo, o que significou uma vez escassez, tornou-se “uma pechincha”. A redução do número de coleções significa reduzir a curva de oferta, e, desta forma, o aumento da demanda.
V: Seu plano é apresentar as coleções feminina e masculina simultaneamente, no mesmo desfile. Isto é um ponto de vista filosófico ou é por economia, também?
Guram: Mostrar [os desfiles] de homens e mulheres ao mesmo tempo nos conecta com a vida real. Hoje, os homens usam roupas femininas e as mulheres se vestem com roupas masculinas. Sexo [gênero] não é mais um fato dado; uma pessoa tem o direito de escolher um. Os tempos mudam. Separar gêneros em dois é contra o fluxo natural da realidade de hoje. Além do ponto de vista filosófico, na verdade, a mudança economiza tempo e dinheiro para todos, começando para marcas até compradores e imprensa.
Novos tempos, sejam bem-vindos.
Para conferir a entrevista em inglês direto do site da Vogue, clique aqui