Há meses venho preparando um texto sobre o tema…
Tenho pensado demais na quantidade de posts e comentários ácidos – muitos agressivos, mesmo – com a bandeira do repúdio ao estilo de vida das outras pessoas e, principalmente, de blogueiros de moda e life style. Ofensas, chacotas e várias outras situações que sequer valem as letras. A grande ironia? Os julgadores muitas vezes tem conteúdos mais rasos e insípidos do que seus alvos de crítica.
Pois bem, aqui estou na minha humilde contribuição aos colegas e suas mentes inflamadas, depois de ler mais dois textos de crítica ao segmento de moda e a quem trabalha com ele, em menos de 4 dias. Desrespeitosos, estranhamente inflamados e grosseiramente comentados.
Entendo parte da raiva, juro. Há uma parcela de formadores de opinião no segmento da moda que, de fato, merece nossos 5 segundos de silêncio e compaixão mas a maioria trabalha sério e procura se aperfeiçoar em tudo que pode para oferecer conteúdos melhores. E é aí que entra o balaio de gato: andam jogando todo mundo na mesma sacola e isso não é legal…
Sou 100% contra jabá enrustido, expressões gastas como ‘in e out’ (já falei disso aqui inúmeras vezes) e reprovo essa história de “so last season” porque sei muito bem o valor de um pedaço de pão e da garrafa de água que entram na minha casa a ponto de entender que roupa não é lenço de assoar nariz. Temos que aproveitar, sim. Temos que usar demais, sim.
Mas não dá para ler tanta gente metendo o pau e ficar quieta, sem me posicionar. Tenho amigos anti-moda e convivemos em perfeita harmonia. Não é deles que falo aqui.
Falo das pessoas que desrespeitam pra valer, com consciência do que estão fazendo. Disseminam em seus blogs e suas redes pontos de vista distorcidos e sem fundamentos. Engraçado que os autores dos comentários ofensivos são, via de regra, os mesmos que gritam em alto e bom som pela igualdade, pelo respeito e mais blablablá que só esquecem de exercer quando querem os cliques nos seus links e títulos ao ofenderem os outros. Não é, no mínimo, curioso?
Reparem: está na moda criticar o life style de que quem ganha para viajar, comer em lugar A, B ou C e fazer publicidade para marca X, Y, Z.
Está na moda inflamar com qualquer coisa.
Está na moda ser hater (acredite, tem quem ache i-n-c-r-í-v-e-l ser taxado de garoto (a) enxaqueca).
As próprias redes sociais estão inseridas em ondas da moda e muito usuário sequer se dá conta disso. Já repararam na quantidade de “Carta aberta a Fulano” que a gente vê por aí? É mais carta aberta do que conteúdo-objeto da tal carta. Isso sem falar nos movimentos que são inciados por hashtags e ‘viralizam’, aparentemente, de forma involuntária gerando guerras verbais nojentas.
Se fossem apenas comentários com respectivos pontos de vista, estaria tudo ok no cenário psico-emocional nacional. A questão é que a coisa começou a descer de nível. E lucidez, minha gente, é o tipo de lance que não podemos perder jamais. Principalmente, quando começamos a sair do nosso espacinho e invadir de forma agressiva, o do amiguinho ao lado.
Tenho refletido muito sobre os motivos que levam essas pessoas a serem tão intolerantes com a vida das outras. Incomoda o life style da Fulana? Incomoda os posts de look do dia da Ciclana? Incomoda a foto no barco? Incomoda a blogger fitness treinando religiosamente às 6 AM?
Por quê?
Por que incomoda ver gente aparentemente “se sacrificando” menos que a gente, ganhando mais e divulgando tudo isso?
Por quê?
Li coisas bem chatinhas, julgamentos toscos, mesmo, nos últimos dias. Aliás, estou colhendo material para este post aqui desde dezembro.
Nos textos cheios de ironia, havia ridicularização aos blogueiros que tinham as vidas chamadas de irreais, superficiais, supérfluas etc. As meninas que criam looks de inspiração (chamados look do dia) foram para o poste juntinho do Judas malhado no feriado do dia santo.
Curioso: enquanto esses textos só ofendem a vida alheia, os supostos ofendidos seguem sem arruinar ninguém, fazendo seus trabalhos e comendo comida boa. Paw!
Meus olhos arregalaram mais vezes esta semana do que no ano passado inteiro e olhem que 2015 foi trash…
Tenho lembrado mais do que nunca de um ensinamento da minha mãe. Aprendi desde pequena que tudo aquilo que ME incomoda no outro é, literalmente, problema MEU.
Tenho blog, não ganho rios de dinheiro com ele, adoraria ganhar porque adoraria viver fazendo tudo que mais gosto: criando acessórios, falando com pessoas, escrevendo, viajando para vários lugares, aprendendo mais sobre cores e formas e, claro, comendo! Tem mal nisso?
Não. A diferença é que, embora viajar, comer bem, trabalhar se divertindo e usar coisas novas seja o que quase todo mundo curte fazer (vide a quantidade de posts na segunda desejando que a sexta-feira chegue, a quantidade de posts saudosistas das férias que acabaram e a quantidade de posts reverenciando a vida que um nicho JÁ TEM), a cultura tosca do “tem que ralar para chegar ao paraíso” não permite que quase ninguém assuma tais gostos.
E o resultado é essa zona de ofensas que a gente vê. A garota que já tem o que quase tudo mundo adoraria ter é malhada até a última encarnação porque gera cobrança em quem a vê, incita consumo (?) e prega uma vida que é irreal (algumas das pérolas que li desde dezembro até agora).
Hein????
Amigo inflamado, tenha mente forte, se trate. Se você não consegue acordar cedo para treinar ou não curte Whey Protein (tamo junto, odeio esse negócio com todas as forças), a culpa não é da blogueira fitness que levanta 5.30AM mesmo tendo bebido todas na festa da véspera. É sua mesmo, que não levantou. Neste caso, é nossa, porque também não consigo levantar, mas não culpo a menina que consegue nem me sinto incomodada porque ela me lembra da minha preguiça. Não é ela que joga o que quer que seja na minha cara, sou eu mesma.
Deu deprê seguir o cara que ganha em um mês viajando e conversando com o pescador na beira do rio o que você ganha em um ano de trampo? Dá unfollow nele e continua fingindo que todo o planeta ganha igual a você, ou melhor: se nivela por baixo que daí sua autoestima se sentirá melhor, tá?
Me poupe…
Não viajo 25 dias do mês e nem posto foto “ostentação” mas tenho a consciência de que se isso me incomoda quando vejo no perfil dos outros não é problema de quem divulga, de quem viaja, come em restaurante caro ou é contratado por grife para viajar e ser clicado em editorial de moda. Se me incomoda, é problema meu! Trago para dentro, reflito e tento resolver. Em mim.
(Este post ficou imenso e, seguindo o conselho de uma amiga – tks, Jess! – dividi em duas partes para facilitar quem está lendo via mobile. Clique aqui para ir para a parte2)