O título” deste artigo é uma pergunta que recebo com recorrência. Hoje, abordaremos os hidratantes com FPS embutido e falaremos sobre maquiagem outro dia, ok?
A premissa da demanda de mercado orienta a indústria sobre quais são os produtos-desejo, aqueles que o consumidor quer.
Muita gente reclama de preguiça na aplicação dos produtos em separado na rotina (principalmente, a da manhã em que quase todo mundo está correndo contra o relógio) e até do esquecimento de aplicar protetor solar. A indústria rapidamente deu um jeito de inserir o fator de proteção aos cosméticos, o que agradou a boa parte do público.
Mas isso abriu uma conversa sem ponto final entre o meio dermatológico-científico quanto à eficácia destes protetores inseridos em cosméticos.
Será que a gente aplica direito?
Uma pesquisa com 84 pessoas realizada na Universidade de Liverpool (Inglaterra), mostrou que o uso de filtro solar puro é mais benéfico à saúde do que quando está inserido em um creme hidratante. Mostrou também que os participantes cobriram mais áreas do rosto quando usaram o protetor separado. Louco, não?
O teste foi dividido em duas etapas: na primeira, os voluntários foram fotografados por uma câmera especial de medição de radiação violeta (UV) antes e depois de passarem protetor solar. Na segunda parte, o procedimento foi o mesmo, mas passaram creme hidratante com fator de proteção em vez de protetor solar.
Resultado: quando usaram o hidratante, os participantes cobriram aproximadamente 80% do rosto. Quando aplicaram o protetor solar, a área coberta era cerca de 86% do rosto.
Resumo: os participantes aplicaram melhor o protetor solar do que o hidratante. Pior: depois de verem este resultado, informaram em um questionário que não sabiam que a cobertura estava incompleta.
E por quê a gente faz isso, mesmo que sem perceber?
Uma gota de hidratante não carrega o FPS inteiro que a embalagem diz ter
Erro comum que eu mesma repeti por anos a fio. Sabe aquele produto carérrimo que a gente morre de dó de desperdiçar e pega só uma gotinha e estiiiiiicaaaa no rosto todo pra render? Ou aquele creme que a gente compra e a consultora de vendas nos orienta a ‘aplicar uma camada bem fina para não ficar melequento porque ele é super consistente”?
Pois é. Não caiamos nessa.
A embalagem de um hidratante que tenha FPS deve nos orientar exatamente quanto à quantidade certa de produto necessária para cobrir o rosto E proteger.
Para chegarmos ao fator de proteção descrito na embalagem, é necessário aplicarmos uma camada suficiente de produto. Dermatologicamente falando, 2mm por cm2 ou, popularmente, cerca de 1 colher de café distribuída em 3 partes: pescoço, cabeça e rosto.
Ou seja: /3 de uma colherinha de café para o rosto.
Beleza. Chegamos ao segundo ponto da questão:
Hidratante com FPS arde se chega perto dos olhos
Arde. Arde horrores.
Um alarme desta pesquisa aí de cima foi exatamente este: a maioria dos hidratantes com protetor solar não é aplicada nas áreas de pele mais fina (pálpebras superior e inferior), o que deixa a pele mais exposta e sujeita ao câncer.
Trabalhando com beleza há 10 anos e sendo especializada em MKT corporativo, já reparei em um fato corriqueiro na maioria dos portfólios de marcas: o incentivo à compra de hidratantes e cremes específicos para a área dos olhos, em separado.
Certamente, você já reparou isso também. O apelo de MKT explica que a fórmula para o rosto é diferente da fórmula para o redor dos olhos e pela estrutura celular da pele destas duas áreas, até aí, tá tudo coerente. Mas, seguindo a lógica de produtos separados, cadê a proteção na área dos olhos? Guardem essa informação aí porque já já a gente volta nela.
Com relação ao hidratante com FPS embutido, nem preciso ir à Inglaterra para provar parte do problema apontado pelos resultados da pesquisa: quantas vezes eu precisei sair correndo pra lavar o rosto porque o olho começou a arder nas minhas inúmeras tentativas de aplicar o hidratante que tenho aqui já com protetor solar inserido, nas pálpebras?
Comento direto com vocês no instagram e no youtube sobre isso… O hidratante com FPS se mescla à transpiração natural da nossa pele e a aproximação com nossa pálpebra gera uma ardência muito forte. E eu nem tenho transpiração de escorrer gota pelo rosto, fico aqui imaginando quem passa por isso em treino, corrida, carro…
A outra parte do problema está na própria formulação de alguns cosméticos. A onda dos produtos multibenefícios só cresce e ganha adeptos a cada dia. O apelo vai desde a questão da praticidade de usarmos 1 único pote ao invés de 2, 3, 4, 5 etc até a questão crucial: preço. Um produto multibenefício tende a ser mais acessível do que se considerarmos todos os ingredientes ativos, em potes separados, obviamente.
O protetor solar e a Anvisa
O que os especialistas defensores do uso isolado do protetor solar argumentam é que nem sempre é possível saber se uma determinada fórmula tem eficácia real no FPS apresentado em relação aos raios UVA e UVB. Por isso, os pesquisadores acreditam que o filtro solar possa ter melhor absorção e proteção em relação aos cremes, mesmo aqueles com FPS.
Vale ressaltar que os cosméticos são classificados como grau 1 ou grau 2. Produtos grau 2 demandam mais tempo de liberação devido aos testes de eficácia e algumas marcas entram, portanto, com a classificação grau 1 para liberação mais ágil e produtos no mercado mais rapidamente. Quando uma marca dá entrada na Anvisa com um produto como hidratante e não como um protetor solar, ela se isenta da obrigação da porcentagem recomendada. Entendeu o enredo todo?
O Dr Rubens Pontello deu uma explicação bem clara sobre o tema, em um vídeo no seu canal do IGTV. Em linhas gerais, ele ressalta que o protetor solar se relaciona diretamente com a proteção à radiação ultravioleta B. Mas, não podemos esquecer que a radiação ultravioleta A (que é constante o dia todo e está relacionada à questões de envelhecimento da pele e ao câncer de pele) também é muito importante.
Pontuou também que pela normativa da Anvisa, os protetores no Brasil devem ter 1/3 da proteção de FPS em relação à radiação ultravioleta A. Isto não é sugerido, é o obrigatório no Brasil. “Quando o produto é registrado como hidratante, ele não tem essas obrigatoriedades”.
Procure marcas de excelente procedência
Então, quando compramos um hidratante onde a empresa adicionou o FPS à fórmula, não há como sabermos se esta empresa seguiu a regulamentação considerando o produto como protetor solar (ou seja: com proteção completa realmente) ou se ela categorizou o produto na Anvisa como hidratante, apenas.
Muitas marcas alegam a eficácia do protetor inserido em seus produtos e, pra nós, consumidores, fica complexo estar no meio do fogo cruzado. A gente acaba cedendo ao apelo da marca e confiando no rótulo.
De 4 profissionais que consultei, 3 recomendam o protetor isolado do creme para melhor eficácia, independente da excelência da marca.
Recomendo que você analise bem a procedência dos cosméticos que tem aí e que os leve ao seu dermato para validação, principalmente, se você precisar de proteção extra devido a algum ácido ou tratamento específico.
Fontes de estudo para este post: Science Daily e Dr Rubens Pontello
Eu sempre tive muita dúvida em relação a isso. Sempre pensei: “será mesmo que o protetor misturado ao hidratante, base e afins realmente funcionam tão bem?”
Alguns dizem que sim, outros dizem que não…MAS..eu prefiro passar um de cada vez. Hidratante e o protetor solar “puro”.
Meu problema é que nunca reaplico =/
Ótima matéria xuxuuu!
Bjs ?
Mi
Sinceramente, só reaplico se molho o rosto… Se não fico exposta à luz intensa e se não molho, não reaplico tb… bjao Showzinha